segunda-feira, 30 de novembro de 2009

small little things

As pequenas coisas da vida são as melhores: "blasé", batido e coçado.

Mas é verdade e eu tenho praticá-lo sempre que possível. A beleza de cada momento é quase irrepetível. Por muito que te esforces será sempre diferente e deves acarinhar os segundos, prendê-los no teu peito e imprimi-los na memória.

Por isso, visto que cada sorriso conta, a época que vivemos agora deve ser feita de prazer em "dar" e "receber".

Claro que as tentações materiais e consumistas são enormes e hipócritas seremos todos se o negarmos. Que anjos são esses que não se perdem com uma volta de compras, numa tarde gelada de Domingo, ao som das ressoadas músicas de Natal? E que trocam olhares compreensivos com os transeuntes carregados com sacos, papel de embrulho e laçarotes vermelhos. E chegarmos enfim a casa, cansados mas inquietos pela expectativa de uma árvore iluminada, com ares de escandinava, ramos vergados pelo peso de mil enfeites e rodeada de caixas, caixinhas e sacos engalanados.

Mas, muito mais do que isso é ver, rever,(re)conhecer a família, os amigos, as pessoas de quem gostamos. É ouvir-lhes as histórias, perdoar-lhes as ausências, vivenciar as suas vidas. Ficarmos contentes com as suas felicidades e tristes e solidários se a dor o exigir. Sentar, comer e beber, conhecer os miúdos que já cresceram enquanto nem sabíamos que existiam. É conhecer as casas novas, apoiar e aconselhar, desejar o melhor. É aquecer a casa, meias de lã até aos joelhos, e recebê-los com chá perfumado e bolachinhas e falar da vida. E devolvermos sempre o sorriso.

No fundo, o que interessa é que nos faça sonhar tranquilamente, de peito leve e grato, braços abertos e lágrimas contidas, na felicidade da concretização de todos estes desejos.

sábado, 28 de novembro de 2009

lema

"You can't afford the house of your dreams. That is why it's the house of your dreams. If you had everything you ever wanted, you wouldn't have a reason to get up in the morning. Be satisfied with dissatisfaction"
paul arden

e assim se encontram razões para o que somos e o que fazemos. Em meras páginas de revista.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

final countdown


Começou a contagem decrescente para o Natal.

Contrariamente aos últimos anos em que tenho andado de costas viradas para o evento, acho que vou mudar e deixar-me contagiar pelo espírito.

Morro de pena por ter sido sempre uma adepta ferrenha e uma consumidora activa e ter deixado que o meu entusiasmo tenha definhado ao sabor dos tristes acontecimentos.

Agora, três anos depois (e considerando que no ano passado já se tinha iniciado a reconciliação), declaro a época oficialmente aberta.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

momento

Hoje, para estragar o equilibrio de ontem e porque a vida é feita destas coisas, tive um momento.

O momento estragou-me o dia e depois de me desforrar em raivas desmultiplicadas, acabou por me arrasar e me prostrar ao sofá em sono leve e inquieto. Ou seja: venceu-me pelo cansaço.

É triste mas acontece quando o corpo quer aguentar mas a cabeça, com vida própria, se nega a colaborar. Todos nós temos de aliviar a pressão, tipo panela homónima, com direito a assobio ensurdecedor.

Para me vingar da traição das minhas emoções entreguei-me aos prazeres carnais - Não, nada disso! - aos prazeres dos quadradinhos de chocolate, um copo de tinto e uma sandoca recheadissima! Diria mais. Magnífico. A lareira a crepitar, a noite a chegar demasiado cedo e olha... acordei há minutos, cheia de remorsos pelo festim fora de horas!

Felizmente não tenho momentos destes todos os dias.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

simples

Até apetece trautear. Deveria ter um gravador de humores para registar estes inéditos momentos do meu acordar. Leve, sorridente por dentro e por fora. Cabeça despreocupada e uma quase ináudivel musiqueta na ponta da língua. E ainda para mais, a semana mal começou - how unusual dear!

Acontece tão pouco que merece "post" para mais tarde recordar.

Agora aqui, depois de percalços e peripécias, ainda me apetece gargalhar alto. Sentada no sofá, aprecio o silêncio. Ninguém mora cá durante o dia, a não ser os bébés e as suas amas, por isso na pior das hipóteses poderei ser interrompida por um miar infantil ou um ronco de aspirador. E o melhor, o melhor mesmo é a luz laranja coada e fria que atravessa o algodão carcomido das cortinas e enche a sala de sol.

Quem dera fosse sempre assim ou estes olhos encontrassem a mesma beleza simples em todas as coisas.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

birth

Nestes dias tenho acordado com um estranho peso na cabeça. Mas não dói e nem tão pouco incomoda. É apenas um peso que se arrasta por eu pouco lhe ligar.

Decidi que temos mesmo de nos preocupar menos. Não sei se vou levar a minha avante, porque existem ossos duros de roer e os meus são disso exemplo. Eu própria debato-me entre as minhas personalidades para ver qual delas vai ganhar.

O batido "Só sei que nada sei" lateja, sabe que tem razão. E que vergonha há nisso, afinal? No fundo: que bom!

Por isso, tenho deixado as coisas rolarem, ao seu próprio ritmo e no seu próprio compasso. Baixo a guarda da minha culpa e cometo o pecado da preguiça. E eis, que, sem desistir das minhas boas e sérias intenções, tudo vai acontecendo. Em passitos de bébé, comme il faut, para habituar a mente. E para permitir que as próximas etapas aconteçam: seguras e satisfeitas. O Apartamento vai nascer: mesmo que eu não me esforce o suficiente, mesmo que eu não o grite aos quatro ventos. Mesmo que eu nem sempre acredite...

Parto dificil, este mágico acontecimento...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

cap vert nha cretcheu




De verde não tem muito, temos que admitir.

Esta ilha é seca e árida, as poucas praias que existem são areia preta ou calhau e a distância entre uma ponta e a outra não ultrapassa os 25km. Mas foi amor à primeira vista, desde o momento em que os pés pousaram em terra, logo tomados pelo pó vermelho que cobre a pequena pista de S. Pedro.

É ter tudo sem ter nada, povo elegante e de palavras meigas, olhos macios e disponíveis. Amantes e amigos, vivem com pouco e não querem muito mais. Como nos disseram os nossos anfitriões nas primeiras noites: Les Cap Verdiennes fait tout doucement...

Mindelo, cidade da música, recebe-nos de braços abertos: sempre perdidos mas sempre encontrados. Nilza levou-nos, deu-nos de comer e a partir daí vagueamos pelas ruas estreitas, em turbilhão, espreitando cada casa e desfiando conversas de storias de vida. O amor, nha cretcheu a Cabo Verde, une raças e filosofias e trocamos sorrisos com quem passa a troco de nada.

As praias de areia vulcânica, o mar turquesa de vontade forte, os trilhos de terra quase a parecerem estradas, onde placas derrubadas impedem o acesso privilegiado. A Baía das Gatas, o ferry para Santo Antão e a descoberta da Ponta do Sol, onde o N. se rendeu e queria ficar...Tudo nos fez acreditar que em breve voltamos e desfazemos as últimas dúvidas.

Até lá, há que seguir os ensinamentos grandes da Morabeza e quiçá: e se a coisa pega?
Com nos disse a bonita que se veio despedir: tudo o que é bom acaba rápido demais.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

tic tac tic tac

À mercê da passagem do tempo. Sentados, perna cruzada, pé inquieto a batucar o soalho. Dedos roídos e nervoso miudinho. Conto os minutos para que seja amanhã.

Amanhã a chuva não vai bater nas vidraças, não vai gelar as folhas murchas das árvores. Amanhã não vai ter caras tristes e pálidas, a contar as horas de luz que já escasseiam e a apertar o casaco no peito, contrariado.

Só caras redondas como luas. Olhos abertos e luminosos, sorrisos rasgados, relatos incompreensíveis. Mãos abertas e esticadas, em pedidos e em ajudas. Bocas de cachupa, vozes de morna, lenta e doce. Amanhã já não é aqui.

Até ao regresso.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

deixar

Quando deixas de amar alguma coisa ou alguém, suponho que o sabes.

Se pensas nisso em pleno enamoramento, não consegues imaginar o quão vago passa a ser o sentimento tão acarinhado. Supreendente, é como se, de repente, a dependência e os afectos deixassem de fazer sentido e o desejo tomba, derrotado pela indiferença.

Hoje senti isso afinal. Porque o sentimento de culpa mirra-te a vontade e cega-te, empurrando-te responsabilidades que não te pertencem, vivendo e usando as dores dos outros em proveito deles próprios, só e apenas. E eu vou ficando pequenina, do tamanho de um punho fechado, encolhida na minha fina casca de dignidade fingida. No fim, a liberdade vem em forma de vazio, ar, oxigénio tão necessário. Um respirar fundo, um pestanejar lento e pensativo e um leve encolher de ombros: tão simples, esteve sempre á minha frente...

Agora, em pequenos passos quero, quero muito ganhar essa coragem para dizer adeus.

(ps. amigos, a minha vida romântica continua sã e com muita vontade)