domingo, 31 de janeiro de 2010

dormência

Todos os dias contamos os restantes até ao final da semana. Todos os dias, mesmo os mais próximos, achamos que falta uma vida inteira para lá chegarmos.

E quando isso finalmente acontece, todos os planos e expectativas tendem a cair por terra. O corpo, pelo menos o meu, desliga. Apaga. Avaria e priva-me de toda a actividade fisica que deveria estar a fazer.

Quanto mais me queixo e mais reclamo necessidades de exercícios matinais, passeios á beira-mar e corridas no parque da cidade, a verdade é que sou tomada por um subito reumatismo, a gota, dores de costas lancinantes e uma neura providencial que a tuda rosna, enraivecida.

E para me acalmar, descansar de tanto esforço mental, sou mesmo obrigada a enterrar-me um pouco mais no sofá, a puxar a mantinha de lã para cima do nariz ou a embrulhar-me nos lençóis ainda quentes.

Acabo de descobrir que o que andei a fazer toda a semana foi sonhar com o dia em que o despertador não vai gritar e em que não deveria haver pesos na consciência por desistir da manhã. Se ao menos o sol me sorrisse lá de fora... No regrets?

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

the day after

Na minha imensa desolação por semanas de chuva e céu cinzento, quer o que lá fora nos protege a cabeça como o que cá dentro a mói, eis que os raios luminosos e brilhantes vieram do sul.

Quando, sentados no comboio, embalados e de braço dado, fizemos o balanço dos dias, achamos que não podem existir melhores motivos para existir: os amigos são tudo o que temos nesta vida e pequenos tesouros como estes guardam-se no bolso apertado do nosso coração.

Inexplicável será perceber como nos ligamos tanto a pessoas que raramente vemos. Na verdade, desde que a química funcione e a conversa flua, que mais é necessário?

Por isso, em três dias e duas noites frenéticas celebramos a vida. Em todos os sentidos.

E com o N. desabafei: a verdade é que há meses não descansava assim. Não pensei nas minhas torturas diárias, não deixei de dormir pelo massacre nocturno das hesitações e dos medos. Pelo contrário: ri com vontade, sorri com doçura e apreciei os espaços, a comida e sobretudo a companhia. Nada melhor que uma tosta mista farta e um croquete de mil carnes na companhia de amigos, no desespero de uma rua sem alternativas. Ou as experiências partilhadas num copo de café gelado, com natas e chocolate (meu Deus, o pecado original...) ou um passeio pela baixa com direito a cavalas e sardinhas embrulhadas em papel colorido, rebuçados tão bonitos como deliciosos, feitos em mãos de aprendiz ou visitas à nossa identidade portuguesa, questionável pela ganância comercial mas agradável à vista.

E claro, bagels verdadeiros na inesperada Deli Deluxe, que cheira e parece bem. Foi um cappucino cheio de surpresas...e não tão negativas como pareceram, assim de repente. No fundo, que mais dizer: a vida continua.

A cereja no topo do bolo veio em formato petite. O que se planeia pode ficar por terra se a compensação for o privilégio de conhecer um novo membro da família. Tão frágil e tão bonito, de mãos e pés minúsculos, é impossível não sucumbirmos a um desejo: o de estarmos mais próximos e irremediavelmente apaixonados por este bébé tão desejado.

Obrigado a todos pela partilha deste momento tão especial. Renovam a minha fé na beleza que vive na lentidão dos dias e na paz que se sente ao partilhar tantos momentos de suave languidez e doce preguiça. Os mais produtivos...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Mais vale tarde que nunca

O novo ano não trouxe grande inspiração.

Ainda espero pelos bons dias que certamente se avizinham, porque prometi que iria pensar positivo e é cedo para desistir. Tenho que confessar que a clareza de espirito, a segurança nas palavras, a vontade nas acções não estão em alta. Mas isso nota-se, sente-se, quase que se toca e se ouve. Não disfarço bem e não tento.

No entanto, dentro do mal - a insegurança profissional, as tristezas deste país e deste mundo, os resquícios de um final de ano pouco prometedor e sobretudo, sim sobretudo, este clima doentio - existem pequenas gotas brilhantes de esperança que timidamente pontuam o cenário e descortinam um pouco de sol, na sua refracção lapidada. E esses raios cortam e aquecem. Acreditamos um pouco mais.

Venham os nascimentos, os casamentos e as surpresas. Cada amigo feliz faz-me um pouco mais feliz também. E continuo a acreditar que ao virar de cada folha pode estar uma descoberta, uma janela, uma entrada de ar que me vai empurrar para o meu destino. Acho que se fechar os olhos com força, se pedir muito, se quiser muito, cerrar os punhos e abrir o peito, o que há de bom virá ao meu encontro e talvez ainda descubra que nos olhos que olho há tanto, na boca que me fala, nas mãos que se estendem na minha direcção, poderá estar a resposta que eu ainda não vi.